Fragmentos de um processo

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Algumas postagens que publiquei no Facebook, ao longo do dia, depois da quinta manifestação contra o aumento da passagem, em São Paulo, que reuniu 100 mil pessoas.

Chegando agora das ruas de São Paulo e acompanhando tudo o que aconteceu hoje, não sei o que pensar, o que dizer.. talvez apenas acorde muito tempo depois.. apenas tenho a certeza: sou protagonista da história, assim como você.

Criar, criar, poder popular!

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Impressionante como o inimigo consegue vencer fácil! A direita e a mídia perceberam que não podem ir contra a ira das massa e tentam, de forma oportunista, instrumentalizar o movimento. A resposta de parte da esquerda é cair nesse jogo e deslegitimar o movimento mais impressionante que já apareceu no país nas últimas décadas. Como num cartaz que eu vi na Paulista ontem: “Os derrotistas serão derrotados”

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Não há culpa nenhuma pela aprovação provisória da tal “cura gay” enquanto no dia anterior as ruas estavam tomadas. Enquanto crescemos, temos que nos espalhar e nos organizar. Se muitos apontam que devem-se fazer lutas mais “focadas”, temos que levar em conta a imensidade de bandeiras contra a opressão: indígenas e negros da periferia assassinados, grandes eventos destruidores, além da ascensão da homofobia e do machismo, etc.. Enquanto Não podemos negar nenhuma delas. A partir da rua deve vir a luta popular. Enquanto os protestos aconteciam, provavelmente também um índio estava sendo espancado e um jovem estava sendo morto na periferia.. A opressão está em todo lugar.
Agora um dos fronts é impedir a aprovação dessa lei absurda contra a diversidade sexual.. E assim seguimos em frente..

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Pela unidade da esquerda

Percebo agora um conflito muito semelhante ao que acontece sempre em muitos movimentos. De um lado independentes, defensores de construções horizontais, autonomia e críticos aos partidos. Do outro, os partidos, que defendem uma presença maior de programas claros, direção e vanguarda. Não concordo com a repressão às bandeiras, acho muito negativo. Mas é importante ressaltar que muitos militantes dos partidos também “abaixam bandeiras” de vozes independentes todos os dias, através da burocratização e manobras em sindicatos, centros acadêmicos, greves, ocupações, etc.. Esse ódio não surge do nada.

Assumidamente, como opção política, defendo a construção do poder popular e formas de organização que vão além de partidos. Mas creio que esse é o momento de unidade e aceitar o diferente. Não podemos deixar a instrumentalização por parte da direita e nos unir pelo o que temos em comum.

Como dizia Drummond:

“Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.”

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O mundo não é um centro acadêmico de faculdade onde todo mundo mundo cita Marx de cor. A rua é da diversidade. Se quisermos um dia transformar alguma coisa, temos que encarar o mundo tal como ele é. Temos que fazer um debate de ideias, propondo e construindo a chama revolucionária a partir da rua.

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